quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fanfarra faz homenagens aos 52 estudantes mortos


Seja em forma dos jequitibás que aos poucos ganham exuberância, seja por meio dos jovens que eternizam a Fanfarra da Dom Pedro 2º, os 59 estudantes mortos no triste acidente do rio Turvo, 52 anos atrás, mantêm-se vivos na memória dos rio-pretenses. Hoje, vítimas e familiares de um dos mais trágicos acidentes rodoviários do Brasil são homenageados com música pela banda marcial em duas apresentações. A primeira será às 21h no pátio da Dom Pedro, na avenida Bady Bassitt. Em seguida, o grupo toca na praça da avenida dos Estudantes, em frente ao Corpo de Bombeiros.

Na Praça 59 Estudantes, no bairro Vivendas, as 59 mudas de jequitibá, plantadas em 2010, simbolizam como a vida pode se renovar de diferentes formas. Em 24 de agosto de 1960, os estudantes seguiam pela rodovia Assis Chateaubriand, de Rio Preto a Barretos, para apresentação nas comemorações do aniversário da cidade. No quilômetro 27, onde a construção de uma ponte obrigava a um desvio, o motorista Wosihiyki Hahiasi perdeu o controle do ônibus, que caiu no rio. Dos 64 passageiros, apenas cinco sobreviveram, entre os quais o motorista. Condenado a dois anos e seis meses de prisão, ele ficou em liberdade por ser réu primário. Hahiasi morreu em 2002.

O fato perturba até hoje. A estudante de arquitetura e urbanismo Diana Cristina Borges tem apenas 18 anos, mas se comove com a história dos colegas que a precederam na fanfarra da faculdade que entrou para a história de Rio Preto. “Sempre que toco, me lembro deles e fico emocionada. Acho essa apresentação muito importante, porque é uma forma de nunca esquecê-los.”

O grupo, hoje uma banda marcial, é composto por alunos e ex-alunos com idade entre 13 e 35 anos da faculdade e de outros colégios rio-pretenses, como a Escola Alberto Andaló. Para o provedor da Dom Pedro 2º, Achiles Abelaira, a fanfarra é uma tradição, que neste ano completa 85 anos. “E também uma forma de homenagear aqueles estudantes.”

Depois do acidente, a fanfarra ficou desativada por um tempo. E voltou com força em 1988, graças ao esforço de alunos da época. Entre eles, Luís Antônio Ferian, 42, um dos atuais instrutores. “Sempre gostei de fanfarras e, quando entrei no colégio, fiquei sabendo da história. Fomos às classes convidando alunos e recebemos doações de instrumentos.”

Pierre Duarte
Jovens da Fanfarra da DomPedro e jequitibásmantêm vivos os 59 estudantes vítimas do acidente do rio Turvo, 52 anos atrás


Ferian cursou Contabilidade e depois fez faculdade de Economia. Mesmo depois de formado, continua participando da fanfarra, que mudou em relação à época do acidente. “Antes, tocavam com cornetas. Agora, utilizamos trompete e trombone,” diz o professor Paulo Canada, que está na coordenação do grupo desde 1988.

Já a Praça dos 59 estudantes foi uma iniciativa da Associação Rio-pretense de Rotarianos. “As vítimas sempre eram lembradas, mas faltava um espaço maior. Quando as árvores estiverem crescidas, o local vai se tornar um bosque que poderá receber a visita de familiares,” diz o rotariano Euclides de Carli. Ele, que é agrônomo, foi o responsável pelo plantio. Toda noite, ia regar as mudas. “Daqui a quatro anos, colocaremos uma placa em cada árvore com o nome dos estudantes.”

A intenção é permitir uma lembrança agradável, com ideia de vida e não de morte. “Foi um marco muito grande e teve um peso enorme para Rio Preto. Uma perda sem precedentes,” diz o rotariano Eufly Angelo Ponchio.

História

A fanfarra seguia em dois ônibus. Um caminhão levava os instrumentos. No primeiro ônibus, o que se acidentou, estavam os meninos. Atrás, seguiam as meninas. Com a queda, o veículo ficou com as rodas para cima. O rio não era assoreado e por isso mais profundo. A missa de sétimo dia das 59 vítimas foi celebrada no antigo estádio do América, para 20 mil pessoas.

Em homenagem aos alunos, em 2000 foi construída a capela do Turvo, a cem metros do local do acidente, para missas e atos ecumênicos. Outra homenagem foi a nomeação da avenida dos Estudantes, antes chamada de avenida Mirassol.




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